Mr. Clay pergunta: "O que é isso?"
"É algo que um homem pensou e escreveu."
"Aconteceu?", pergunta Mr. Clay.
"Não."
"E vai acontecer?"
"Não."
Mr. Clay não se conforma. "Mas deveria acontecer", replica sarcástico, como quem diz, do contrário não faz sentido contá-lo.
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por muito tempo fui algo como Mr. Clay, uma [ingênua] adoradora de literatura, mas que duvidava da não-veracidade dos fatos narrados. atualmente, talvez pelo aumento da maturidade, pelo estudo da semiótica [siiim] e/ou pelo acúmulo de diferentes experiências antes não-vividas e agora já bem degustadas, consigo abstrair mais e aceitar muitas narrações apenas como pura ficção. mas sempre fico com aquela pontinha de dúvida: qual pequena ação [ou até mesmo palavra] desta ficção bebeu da realidade para todo o seu desfecho? é, acho que ainda tenho uma pequena resistência: a necessidade de um pequeno ponto de apoio na realidade para o surgimento de devaneios. pragmatismo, objetividade e racionalidade me acompanham [quase] sempre.
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sempre gostei muito de ler. na minha adolescência instituí a regra de ler um grande clássico todas as férias, o que já me rendeu uma pequena bagagem literária. com a entrada na faculdade, a leitura de livros não-específicos da área de atuação decaiu, e agora tento retomar o ritmo. é uma forma de me desligar das atividades profissionais e entender o mundo de outra forma.
e K. Blixen é a escritora que desta vez me deleita. terminei anedotas do destino, último livro de contos da escritora em vida e meu primeiro concluido de 2009. o que me levou a lê-lo não foi somente a vontade de conhecer a obra da autora, mas, sobretudo, o conto a festa de babette e, mais ainda, o título do livro, anedotas do destino. tantos fatos desconexos ocorrem em nossas vidas que uma pequena fé no destino, ou na idéia de que um dia os pontos se juntarão, independente do que aconteça, é o que me faz saborear um pouco melhor cada um destes fatos que tomam espaço recentemente não somente comigo, mas com pessoas próximas. é quase algo como vagar a noite toda e só pela manhã enxergar o desenho do caminho -antes fragmentado, agora completamente interligado. talvez só acreditando em destino, e na suas venturas, para [tentar] justificar uma grande quantidade de fatos que ocorrem na nossa [breve?] existência. alguém pode me dizer que nem tudo precisa fazer sentido e que nem tudo precisa ter resposta, mas eu [ainda] não funciono/penso assim. preciso das conexões [por mais obscuras e complexas e dolorosas que estas sejam] para seguir em frente, mesmo que sem segurança no início. viver apenas por viver não me serve.
Sonntag, 1. Februar 2009
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